terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sem som

Meus pés estão frios, minhas mãos congeldas, meu corpo estático sente o sangue endurecer, o cérebro esvaziar. A banheira está ali ao meu lado, quente, reconfortante, acolhedora. Ela é tudo o que sempre sonhei.
Luto contra minha inércia e avanço sobre ela. Toco sua superfície com a mão direita e me vejo corar, sinto o calor, a paz, o alívio daquela nova temperatura. Ainda cuidadosa, deposito meu pé direito no fundo daquele imenso caldeirão retangular, faço a mesma coisa com o pé esquerdo e aos poucos, com medo de me entregar cedo aos encantos de alguns segundos de conforto, de calor, passo a repousar ali.
Fico submersa até o pescoço e sorrio. Sorrio sem motivo, sem querer, como se minha felicidade escapasse por entre meus lábios e deitasse naquelas águas ainda mornas e chamativas. Fecho os olhos com palpebras corais, enconsto a cabeça para trás e me deixo levar sob meu aconchego.
Sou feliz, estou feliz. Ali sozinha é a água quem me conforta, da janela vejo as gotas de chuva molharem a rua, as pessoas agora frias. Sinto um calafrio quando penso nas pessoas frias, elas nunca tiveram uma banheira de água quente em suas vidas. Sinto pena, sinto dó.
Adormeço e ao acordar a água fria me congela. Minha garganta fecha, minhas mãos repousam fechadas ao lado de meu corpo, meus olhos estáticos fitam o teto, o branco e imoral teto de meu banheiro. Meu corpo está rígido, meus pensamentos pesados, minha solidão assustadora.
Morri em águas geladas enquanto sonhava com a quentura de um banho anterior.