sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Descobri

Quando descobri que me apaixonei por você, me lembro de ter negado todo aquele sentimento. Tentei arrancar com os dedos o seu rosto de minha mente, o seu cheiro de meus cabelos, a vontade de você do meu corpo.

Tentei fugir da minha dor, da minha cidade, da minha vida. Neguei até o fim que te amava, neguei até o fim que sua falta me fazia chorar, neguei até o fim que precisava de você, mas bastou seu olhar faceiro, suas mãos firmes, seu abraço reconfortante para que eu pensasse em me entregar.

Pensei em te deixar entrar em minha vida, em te contar meus segredos, meus medos, meus sonhos. Pensei em te mostrar o caminho do meu coração e te dar passe livre no meu cotidiano, pensei em você mais do que pensei em qualquer pessoa.

Sorri, fiquei boba, eufórica, amoleci e deixei meu medo de lado. Eu estava entregue, estava preparada para amar. Mas você não. Me deixou confusa, tomou iniciativa e recuou. Fez com que eu me sentisse amada, desejada, mas no fim me deixou sozinha e perdida em mim mesma.

Foi amando você que descobri que o amor machuca, que fere, que dói, mas que alegra, que sorri, que acalenta, que apenas se entrega por completo. Foi amando você que descobri que amor e ódio coexistem e te despedaçam aos poucos, de dentro pra fora.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A facada não vem do inimigo

Fuçar sempre foi meu trabalho, fuçar não, pesquisar. Era fascinante ir descobrindo aos poucos tudo o que você quer saber, é excitante vasculhar, ligar os pontos, montar um quebra-cabeça e dizer, fui eu quem cheguei a essa conclusão. Era esse o meu trunfo, meu diferencial. Era. De verdade, o que eu queria fazer, o que sonhei fazer, e do que esperava viver. Mas como disse, era.
Tudo porque meu trunfo virou meu vício, e eu me peguei vasculhando tudo, tentando ligar todos os pontos, montando quebra-cabeças diferentes com peças antagônicas. Eu tentei, eu forcei o encaixe, mas ele não ia, emperrava, chegou até a rasgar e ceder um pouco, mas não era o encaixe perfeito e mais, não formou imagem alguma depois das peças estarem juntas.

Mas melhor voltar ao meu ofício, como todo metido a detetive um estalo me levou a um caminho sem volta, era preciso agir no impulso, sem deixar rastros, pistas ou manchas. Não sei se consegui, provavelmente não. Tudo porque não me dei conta que essa investigação era diferente de todas as outras, ela envolvia algo com o qual nunca me dei muito bem, o sentimento.

Quando abri a pasta que faltava eu já sabia o que esperar. Mesmo não acreditando consegui ver com os meu olhos de São Tomé que o inimigo mora ao lado, não se importa com seus sentimentos e só quer mesmo é se dar bem, independente do que realmente deseja.

Bem, comigo nunca foi assim, eu não entendo o interesse exacerbado no material, tenho nojo de quem age pela carteira e sinto pena de quem se submete a isso. Tudo isso porque tenho orgulho e medo de ser o que sou, de pensar como penso e de viver com a convicção de que o conteúdo do livro vale mais do que sua capa e, que nem o melhor e mais bonito frasco do mundo fará jus a fragância que escolhi. Que nada nem ninguém tem o direito de passar por cima do sentimento de alguém para conseguir o que quer.

Eu ainda acredito no respeito, no amor, na justiça, no conhecimento, nesse acima de todos os outros. Porque é burrice pensar que não exista no mundo alguém que investigue o suficiente para descobrir que você mentiu, deu trela, deu esperança, se jogou, deu abertura, mas não foi retribuida e partiu para outra.

Mas nem isso foi capaz de me deixar feliz, apenas porque eu sei o que sempre soube, nada do que fiz por você, nem as coisas que abdiquei por você te tornaram uma pessoa melhor. Não. você está cada dia mais distante de ser o quer mostrar ser e, eu, apesar da decepção e do arrependimento, sei que me tornei algo que você jamais será. Uma pessoa de caráter.

domingo, 6 de novembro de 2011

Monstros

Existe um mundo onde somos tudo, onde criamos tudo, onde estamos sempre presentes. Um mundo no qual nada nos magoa, nada nos reprime, ninguém nos exclui. Existe um mundo onde sou tudo, onde crio tudo, onde estou sempre presente. Um mundo no qual nada me magoa, nada me reprime, ninguém me exclui. Esse mundo existe, e me torna cada dia mais fraca, mais vulnerável, mas atingível, apenas porque eu percebo que no mundo onde vivo as coisas são sempre opostas ao que eu queria que fossem. Eu sou o oposto do que gostaria de ser. Porque nesse mundo do qual me abstraio tenho apenas que matar meus monstros para conseguir viver, mas a verdade é que eles, a cada dia que passa, me engolem um pouco mais e, então, eu volto a fugir para o meu mundo.