sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Por que você disse que me amava?

É verdade que o ponteiro do relógio pode se arrastar por uma hora em apenas um minuto quando estamos ansiosos. Esse dia foi incrivelmente perturbador para mim. 

Não consegui me concentrar, comer e nem mesmo conversar como das outras vezes. Nem mesmo agradeci aos elogios que recebi dos meus colegas quando às 18h eu já estava pronta e arrumada para te encontrar.

Não estava apressada quando sai do prédio, você estava a apenas uma esquina de distância, mas meu coração palpitava em um frenesi tão intenso que senti meu pescoço pular com o esforço de manter o batimento. Menos de cinco minutos depois eu já estava na livraria, folheando inquieta as páginas de uma obra que não me recordo, enquanto esperava você chegar. Eu não precisa te ver. Sentia sua presença, seu cheiro, o seu calor antes mesmo de encontrar seus olhos.

Os meses que antecederam esse encontro foram longos, frustrantes e nervosos. Ainda sinto aquele arrepio na espinha só de lembrar.

É verdade que estou aqui por meus amigos, que não me aguentam mais ouvir falar de você, mas também por mim. Tenho certeza que me arrependerei no futuro, mas não posso continuar vivendo com a nossa incerteza.

Mesmo agora, sentada em meu quarto escrevendo a nossa história ainda consigo me lembrar da sensação daquele dia. Da palpitação, ansiedade, nervosismo e esperança. Nunca me senti tão confiante de uma decisão.

Quando te vi os segundos passaram mais lentamente, inflar os pulmões pareceu mais denso e me manter em pé parecia uma missão impossível com o bambear das minhas pernas. Não sei como consegui te responder quando me cumprimentou tamanho o nó que senti no estômago.

Seu abraço ainda está em mim. Talvez você não saiba o quanto de amor conseguia transmitir todas as vezes que me envolvia em seus braços. Mesmo que em nosso último encontro até isso tenha perdido um pouco da cor. 

Jogar conversa fora não me parecia muito conveniente para o momento, nós dois sabíamos porque estávamos ali. O meu sentimento foi declarado à você por alguém que não fazia parte dessa relação, e agora eu precisava te dizer, olhando nos seus olhos que tudo aquilo era verdade.

Mas eu não me lembro o que falei, não me lembro como começamos a conversa, mal me lembro como cheguei até lá. Lembro apenas do momento em que você declarou o mesmo sentimento, o medo e me olhou com ternura.

Eu sei que deveria estar grata, saber que você me amou deveria me bastar. Saber que eu fui correspondida deveria ser o suficiente. Mas não foi! Você foi meu único amor correspondido. E mesmo assim nós não tivemos nenhuma história. E isso me dói.

Imaginar que aqueles momentos poderiam ter sido diferentes, que nosso lábios poderiam ter se tocado e eu poderia ter sentido o amor que todos parecem procurar só me deixa mais frustrada.

Você encontrou o amor depois de mim. Mas eu não consigo te esquecer.

Como um fantasma você está sempre comigo, assim como o sentimento que nunca deixei de ter por você. E por mais que eu tente esconder, fingir e seguir em frente. O fato de saber que você me amou não me permite. Se você nunca tivesse sentido nada, talvez eu não acreditasse que nos perdemos quando decidiu não me encontrar.

Para você eu posso ter sido a pessoa errada, no momento errado, irmã da pessoa errada. Mas pra mim você foi um feixe de luz em uma vida que só parecia ter escuridão.