quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O amor que você não me deu

Se a arte imita a vida ou a vida imita a arte eu sinceramente ainda não descobri. Se minha existência beira entre o pastelão mexicano e Avenida Brasil, posso dizer com a mais enlouquente veemência que a infelicidade de um filho mora na dor de seus pais. E os meus sofrem, ou pelo menos aparentam sofrer, e sou eu a causa.

A adolescência me deixou há algum tempo, mas os questionamentos que chegaram com ela ainda me atormentam, e talvez atormentem para o resto da minha vida. Em uma das minhas tristes consultas com a psicóloga lembro de ter ouvido um das perguntas que mais me atormenta por todo o sempre. Você se sente preterida?

Eu lembro que respondi, não sem antes soluçar para a profissional que só podia me estender um lenço um copo d'água e me deixar chorar, e eu o fiz por quase toda a sessão, a inteira chorei na primeira quando pronunciei a palavra que mais me dói e que me questiona se um dia quero ter filhos.

Ser preterido dói, e é aquele tipo de dor na alma, que tem gatilho e me pega mais vezes do que eu gostaria. E por mais que seja evidente o modo como sou tratar, deixada de lado e ignorada, por algum motivo parece que sou eu a errada da história.

O porquê me odeiam? Não sei, mas o fazem toda vez que tiram de mim e dão ao outro, toda vez que me dizem não enquanto os dois recebem um sim, quando o "mas agora é diferente" é na verdade o mesmo com a pessoa diferente.

E enquanto eu vou colhendo os frutos dessa falta de carinho e também dessa falta de confiança e de amor próprio, que eu acabei erroneamente depositando em quem não me ensinou a me amar.