terça-feira, 27 de novembro de 2012

Só, tão somente só

Estava sentada em minha cama, angustiada, estática. Com os ombros arqueados para frente minha testa quase encostava em minha panturilha, enquanto cobria com as mãos meus olhos vergonhosos do choro. Vozes gritavam silenciosamente em minha cabeça, eram homens, meninos, crianças, mulheres, todos eles berrando meus fracassados, intensificando minha dor. Mas quando eu consegui abafá-las, senti como se uma brisa leve limpasse todos os pensamentos. Parei, fiquei com a coluna ereta e olhei fixamente para o espelho pendurado na parede em frente a minha cama e então eu vi. Me enxerguei com um desespero alucinante, eu estava ali, e a voz que agora invadia minha mente estava mais assustadora do que as centenas que eu acabará de escutar, porque era o meu timbre quem me acusava.

E eu, me encarei com os olhos inchados, a respiração falhada com os soluços do choro frenético, a boca seca, a cara vermelha, inchada. Eu estava sozinha, sem nada, sem forças, sem sonhos, sem metas, sem vida. Sim eu parasitava pela minha rotina, não enxerga nada, além de minha dor, mas sabia que aquela não era eu, nem nos meus piores pesadelos, ou nas vagas lembranças da vez em que tudo ficou escuro.

E quando olho pra trás vejo que as frustrações me deixaram assim, definhando, e que talvez a solidão tenha feito seu papel também neste quesito. Foi então que lembrei de você, dos teus olhos dúbios, do modo como você me fazia sentir, até mesmo da sua palpável dúvida que envolvia nossos corpos quando um dos dois recuava inseguro. Lembro das suas mãos, do modo leve com que as conduzia em minha cintura quando você não tinha medo, vergonha, timidez. Lembro das suas confidências, das minhas, dos nossos segredos e do sentimento crescendo em meu peito e se tornando tão grande que acabou por consumir todas as partes do meu ser.
 
 E então, lembro do modo como você distruiu tudo isso, do jeito como se afastou e voltou tantas vezes que eu fui ficando cada vez mais machucada. Recordo então das outras vezes em que perdi o ar ao chorar por você, pela sua falta, pela minha inocência em acreditar em suas palavras, e cai. Cai novamente no abismo das lágrimas, da solidão, das mãos vazias, do coração apertado. Me deixei flutuar entre o medo de te perder para sempre e a certeza de que nunca te teria, e essa dor me afogou em mágoas, endurecendo cada parte do amor que guardei para você.