sexta-feira, 6 de junho de 2014

No inverno da alma

Faz frio, da janela eu escuto as gotas de água que caem nessa manhã cinzenta, gélida, pálida! Mas o que me arrepia é o frio que eu sinto por dentro, o vazio de uma vida cansada de desistir, de ter seus sonhos derrubados como cartas de um castelo que se equilibra.
A desistência me assola, é como uma companheira indesejável, ela fica ali, escondida nas sombras, esperando que eu coloque a última carta na torre para só então liberar o ar angustiante entre seus lábios. Ondulações de desolação que viajam no espaço vazio entre minha luz e sua escuridão, até que o castelo balance. Então ela sorri descarada, dá um passo para fora de sua covardia, infla o peito, espera alguns angustiantes segundos enquanto eu rezo, sim eu rezo, nem sei mais para quem, para o quê. 
Me coloco à frente de mim mesma, da minha construção e tento soprar de volta, e enquanto fecho os olhos em busca da súplica, ela me derruba no chão, pisa em meu corpo e sacode a bancada na qual construí meus últimos momentos.
Um grito estridente ecoa pela minha garganta, é a angústia de mais uma vez ver tudo desabar diante dos meus olhos enquanto o baralho começa a voar livre pelo espaço. Quase nenhum fica na mesa, a maioria ela toma na mão, joga seu hálito morno e rasga como uma folha de papel, antes de atirá-lo em minha direção.
E enquanto eu me afundo no chão vazio, as lágrimas brotam de meu rosto pela repetição da história. Porque no fundo eu estou apenas cansada de sempre levantar e reconstruir aquele frágil castelo, e as vozes em minha cabeça me dizem para desistir, para buscar outro caminho, talvez um pouco de bloco, tijolo e cimento.
Mas eu olho e vejo que só tenho cartas, e agora elas são poucas espalhadas entre luz e escuridão. E por mais que eu negue, entrar de novo na sombra me assombra. O caminho de volta é traiçoeiro e eu posso bater de frente com um muro, ou me perder dentro de suas curvas.

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