quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Deveria eu ser diferente?



Durante muito tempo eu ouvi conselhos de quem só queria me ajudar. Escutava que se não mudasse meu gênio, jamais conheceria um homem que quisesse ficar comigo, escutava que era forte demais para uma menina, que os meninos tinham medo de mim e que eu afastava as pessoas. Fui comprada a prostitutas e maus exemplos familiares por ter a independência em meu pensamento e modo de agora 

Passei anos me questionando o motivo de ser tão diferente das outras meninas, tentando descobrir o que as fazia melhor do que eu e porque eu tinha que ser essa "aberração".

Me odiei por isso. Quantas vezes eu chorei por não querer ser quem eu sempre fui. Quantas vezes me olhei no espelho e repudiei meu corpo, meu rosto e tudo o que envolvia? Muitas é a resposta. 

E não foi apenas os meninos. As meninas também me excluíam, riam de mim e me diziam que eu deveria me "olhar no espelho".

Ganhei golfinhos e baleias de inimigo da onça quando nem entendia direito o que faziam comigo. Escutei um "amigo" me dizer (na minha primeira viagem sozinha com a escola) que eu parecia uma orca na piscina e que deveria usar maio.

Fiquei horas esperando uma paixonite que prometeu me encontrar depois que me declarei, mas que não apareceu e sequer me disse o motivo.

Chorei aquele dia, lembro de ter me questionado o porque eu não era amada, porque ninguém gostava de mim, porque as outras meninas eram correspondidas e eu não. Culpei meu peso, minha aparência, minha genética, culpe a mim. 

A vida passou e a maior parte dela não foi realmente fácil e apesar de saber que isso tudo me tornou mais forte, todas essas coisas me machucaram, me retraíram e me tornaram uma pessoa muito frágil emocionalmente. Ainda carrego boa parte disso comigo.

Eu cresci e descobri que não há nada de errado com quem eu sou. Sei que essas pessoas que me machucaram também cresceram, mas não sei se eles perceberam o modo negativo com o qual me marcaram. 

Tive uma amiga de anos que trocou minha amizade pela popularidade do colégio, tive meninos que não me assumiram por vergonha de mim. 

Até hoje eu sequer ouvi um pedido de desculpas, não espero por isso. O que espero é que essas pessoas tenham se dado conta de que o que faziam (ou fazem) não é legal e que se esse ciclo não for parado outras pessoas vão se machucar.

Não sou melhor nem pior do que ninguém, não quero atenção nem pedidos de desculpas, quero apenas que vocês ensinem tolerância à seus filhos e que impeçam que eles também façam marcas negativas na vida de alguém que ainda está descobrindo quem é.

Eu tive um final feliz, mas muitas crianças e adolescentes não têm.

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