segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A facada não vem do inimigo

Fuçar sempre foi meu trabalho, fuçar não, pesquisar. Era fascinante ir descobrindo aos poucos tudo o que você quer saber, é excitante vasculhar, ligar os pontos, montar um quebra-cabeça e dizer, fui eu quem cheguei a essa conclusão. Era esse o meu trunfo, meu diferencial. Era. De verdade, o que eu queria fazer, o que sonhei fazer, e do que esperava viver. Mas como disse, era.
Tudo porque meu trunfo virou meu vício, e eu me peguei vasculhando tudo, tentando ligar todos os pontos, montando quebra-cabeças diferentes com peças antagônicas. Eu tentei, eu forcei o encaixe, mas ele não ia, emperrava, chegou até a rasgar e ceder um pouco, mas não era o encaixe perfeito e mais, não formou imagem alguma depois das peças estarem juntas.

Mas melhor voltar ao meu ofício, como todo metido a detetive um estalo me levou a um caminho sem volta, era preciso agir no impulso, sem deixar rastros, pistas ou manchas. Não sei se consegui, provavelmente não. Tudo porque não me dei conta que essa investigação era diferente de todas as outras, ela envolvia algo com o qual nunca me dei muito bem, o sentimento.

Quando abri a pasta que faltava eu já sabia o que esperar. Mesmo não acreditando consegui ver com os meu olhos de São Tomé que o inimigo mora ao lado, não se importa com seus sentimentos e só quer mesmo é se dar bem, independente do que realmente deseja.

Bem, comigo nunca foi assim, eu não entendo o interesse exacerbado no material, tenho nojo de quem age pela carteira e sinto pena de quem se submete a isso. Tudo isso porque tenho orgulho e medo de ser o que sou, de pensar como penso e de viver com a convicção de que o conteúdo do livro vale mais do que sua capa e, que nem o melhor e mais bonito frasco do mundo fará jus a fragância que escolhi. Que nada nem ninguém tem o direito de passar por cima do sentimento de alguém para conseguir o que quer.

Eu ainda acredito no respeito, no amor, na justiça, no conhecimento, nesse acima de todos os outros. Porque é burrice pensar que não exista no mundo alguém que investigue o suficiente para descobrir que você mentiu, deu trela, deu esperança, se jogou, deu abertura, mas não foi retribuida e partiu para outra.

Mas nem isso foi capaz de me deixar feliz, apenas porque eu sei o que sempre soube, nada do que fiz por você, nem as coisas que abdiquei por você te tornaram uma pessoa melhor. Não. você está cada dia mais distante de ser o quer mostrar ser e, eu, apesar da decepção e do arrependimento, sei que me tornei algo que você jamais será. Uma pessoa de caráter.

3 comentários:

srodrigues disse...

Adorável como tudo que escreve. Ficou um bom tempo sem escrever, fiquei curioso pela sua ausência tanto tempo. Está certa, assim como perdoar (embora seja mandamento de Deus ) não muda quem errou, " abdicar ' também não. Abraços !

Pâmela Alves disse...

Obrigada SRodrigues, falta de tempo me faz deixado log com poucos textos, mas fico contente que tenha gostado!

Pâmela Alves disse...

Obrigada SRodrigues, falta de tempo me faz deixado log com poucos textos, mas fico contente que tenha gostado!