domingo, 14 de setembro de 2008

A Cegueira de quem vê.


Eu não tive a oportunidade de ler o Ensaio sobre a cegueira,mas tive a felicidade de conhecer ainda que superficialmente algumas características desta estupenda obra literária, ousaria até mesmo dizer obra de arte.
Eu não sei por qual questão,qual motivo e inspiração este português resolveu um dia ter a ousadia de escrever algo tão crível.O que ele passou em sua vida,ou o que ele gostaria de passar.
Sentar e escrever, e escrevendo foi capaz de trazer a nós um mundo tão vergonhoso e obsoleto,que simplesmente preferimos fechar os olhos e não ver.
Nós nos tornamos cegos por vontade própria e cegos continuamos por comodidade.Cegos ainda estamos.
Saramago trouxe a vista a maior peste da sociedade, a vontade em não ver,o prazer que temos em fechar os olhos,em apenas sermos visto e nunca olharmos.
Ele deu o poder da visão a uma única pessoa,a única que sempre pôde enxergar a única que não cobriu os olhos,a que estava sempre preparada, a dona de casa esquecida, a mulher do lar que se preocupa, que escuta o marido que põe o despertador pra funcionar, que serve o café e que ouve calada o marido elogiar a torta que ela fez.
"-Era tiramissu", ela responde.
Era um tiramissu não era uma torta,eu era... não era você.
Ela guiou,respeitou,escutou,se sacrificou,ENXERGOU, teve nas costas o peso de ver onde não havia mais esperança, de ver o mundo do jeito que ele sempre foi.
Sujo,mesquinho,abandonado onde quem tem o poder manda,não o da visão o poder de fogo,de destruição, onde o justo perde espaço pro duvidoso,onde a solidariedade é roubada pelo malandro e os cachorros lhe comem antes mesmo de sua carne esfriar.
Um mundo onde seu marido lhe traí e você ainda para pra pensar em tudo o que pode fazer,em como pode ajudar.
Um mundo machista onde os homens não pensam em suas mulheres pensam só em sua dignidade,um mundo onde o que vale mais parece menos.
Um mundo onde o branco fica negro e o claro já não tem cor.
Um mundo onde uma mulher se sacrifica e um cego engana quem está e na mesma situação,onde a dó não tem vez, eles lutam e não se importam com quem está ao lado.Um mundo onde o coletivo se torna mais individual do que um pobre solitário.
Eu me impressionei e me emocionei com as cenas que vi,e com o modo como Fernando Meirelles dirigiu tudo aquilo,Sandra Oh,Gael Garcia,Mark Ruffalo ,Yusuke Isseya ,Yoshino Kimura,Danny Glover,Alice Braga e a estonteante Julianne Moore, a mulher que supera a força e mantém a tranquilidade, a mulher que toda mulher procura ser,a mulher que não teme em ser apenas mulher.
Perturbador, é verdade, mas ele é.Foi inevitável não chorar,em algumas cenas eu solucei e preocupada olhava para o lado para que ninguém me visse,irônico não,eu tive medo,eu quis fechar os olhos,mas eles teimavam em se manter abertos,e mais uma vez eu fui incapaz de sair daquela sala sem tentar ver alguma coisa diferente.
Quando chegamos ao cinema a sessão que queríamos já estava lotada e decidimos esperar a última sessão, foram 3 horas de espera,3 horas muito bem gastas,e muito bem guardadas, não tínhamos o que fazer as lojas já tinham fechado e estávamos ali esperando com outras pessoas a teimosia do tempo em não passar.
A única coisa que passava pela minha cabeça era:
-Tomara que o filme valha a pena.
Valeu! Valeu! Valeu!
Quem leu o livro pode chegar e falar pra mim ,que eu não entendo nada que estou alucinando,mas eu tenho essa mania,falo o que sinto, e senti que este filme acrescenta muito neste mundo frenético. 
E senti mais uma vez, que tenho a sorte em ter em meu mundo pessoas que realmente vêem. 

2 comentários:

Marcela Bonazzi disse...

Ahhh tô muito querendo assisatir o filme!!!

O livro é bom, a narrativa é longa, cansa um pouco, mas a idéia é magnífica.!

Beijooos
Amo amo

Marcela De Mingo disse...

ahhh! eu to pirando pra assistir esse filme...
a obra de Saramago é simpelsmente incrível e aposto que o filme faz jus à obra. Aliás, convenhamos né, estamos falando de Fernando Meirelles, e, digam o que quiser, mas ele é um grande diretor!!

Beijinhossss
Amo Amo!